quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Colombiana me acha chato

Tudo começou no segundo dia, geralmente a gente almoça na ONG:

Colombiana: Marcelo, vamos combinar uma coisa?
Eu: Talvez, o que é?
Colombiana: Cada dia um de nós lava a louça.
Eu: Não, obrigado.
Colombiana: Como assim?
Eu: Eu não quero combinar isso.
Colombiana: Mas...
Eu: ???
Colombiana: Você não quer ajudar?
Eu: Pelo contrário, eu trabalho aqui, você tá aqui por diversão, e quem faz o almoço sou eu, você pelo menos deveria lavar a louça.

Pronto, decretei guerra.

Ela pegou no meu pé três dias, tudo era "Marcelo, posso isso?", "Marcelo, posso aquilo", contava pra todo mundo que eu não quis combinar de lavar a louça, se eu estivesse conversando com qualquer pessoa ela chegava e fala "Pessoa, sabia que o Marcelo não quis combinar...", acho até que ela bateu palma na casa dos vizinhos pra contar aquilo.

Eu: Andina, por que você pede tudo pra mim? Eu juro que não sou o chefe aqui.
Colombiana: Não sei.
Eu: Vamos fazer assim, primeira coisa: para de falar meu nome, segunda: você não precisa pedir nada pra mim, eu deixo você fazer, terceira: se você acha certo, não precisa pedir pra ninguém.
Colombiana: Tá.

Segundos depois:

Colombiana: Marcelo, posso...?
Eu: Você pelo jeito não entendeu nada do que eu disse?
Colombiana: Você é muito chato.
Eu: Sim, você também é, não gosto de você e pior, tô começando a odiar meu nome.

Mesmo dia, no ônibus indo embora?

Eu: Por que você pega tanto no meu pé?
Colombiana: Porque você não quis combinar o negócio da louça.
Eu: Ah ta, então vamos fazer assim, eu faço minha comida, você faz a sua, beleza?
Colombiana: Eu não sei cozinhar.
Eu: E eu não sei lavar a louca, lava e fica na boa.
Colombiana: Não, nossa amizade acabou no segundo dia.
Eu: Amizade que nem começou, eu não sou seu amigo, eu nem te conheço, te vi quatro dias.
Colombiana: Então ta.

Imagina, cadê os créditos da Chelão do Buquê, os vários bolos que dei nela, sem contar as coisas que ela aguentou comigo. A Ana na Bolha do Amor, o tanto de bolo que dei nela já daria pra ela montar uma loja, combinar dormindo de ir tomar vacina e não acordar, a raiva que ela passou quando eu fiquei bêbado e fui falando merda no carro. A Moco, que fez todas as coisas que tinha que mandar pro EUA e eu só copiei (ela ficou 2 meses sem falar comigo), quando eu falei pra ela fechar os olhos que eu ia segurar na mão dela pra atravessar a Av. São Paulo, no meio do caminho gritei “Olha o carro!” e sai correndo puxando ela que só abriu os olhos do outro lado da avenida. Os amigos da faculdade que ficavam preocupados quando eu os deixava nas baladas e sumia (Depois de um tempo virou rotina e ninguém se preocupava mais, Um: Cadê o Dracena? Outro: Certeza que foi embora. Um: Ah é.). O Gagotos Não Resistem aos Seus Mistéguios, que, espero eu, tenha me perdoado de uma das maiores cagadas que já fiz. A Maringá Não Tem Homem Pra Mim, que agora é parceira. O Bucão, que eu devorava todo o amendoim que tinha em casa. O Ferlindão... Não, definitivamente ela não é minha amiga.

No outro dia ela contou pra todo mundo da ONG que eu também tinha dito isso.

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Colombiana: Marcelo, se eu der um pen drive você passa as músicas que você gosta pra mim?
Eu: Passo.
Colombiana: Eu vou passar as que eu gosto pra você.
Eu: Não precisa, não.
Colombiana: Por que não?
Eu: Porque eu não vou ouvir suas músicas.
Colombiana: Você é muito chato.
Eu: Eu sou legal, estou te poupando um trabalho inútil.
Colombiana: Como assim?
Eu: Não precisa me mostrar as músicas que você gosta.
Colombiana: Mas tem do Brasil também.
Eu: Pior ainda, você vai vir com algum axé, funk ou qualquer coisa do tipo.
Colombiana: Jota Quest?
Eu: Tô tranqüilo, melhor deixar. No me gusta!

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Conversávamos sobre como o mundo não anda muito bom:

Colombiana: Marcelo, você disse que eu falo muito, nos últimos 15 minutos só você falou.
Eu: Acontece que eu falo coisas relevantes, você não.
Colombiana: Eu não falo?
Eu: A pergunta não é “Eu não falo?” porque você fala demais, a pergunta é “Eu não falo coisas relevantes?”, resposta “Não!”, você só abre a boca pra 3 coisas, falar meu nome, comer e conversar abobrinha.
Colombiana: Você é muito chato.

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Colombiana: Marcelo, eu consigo passar por brasileira?
Eu: ??
Colombiana: Quando eu converso, as pessoas acham que eu sou brasileira?
Eu: Não.
Colombiana: Acham sim.
Eu: Deixa eu explicar uma coisa, quando a pergunta é retórica você não pode falar meu nome porque senão eu vou achar que você perguntou pra mim.
Colombiana: Tá. Marcelo, quando eu falo as pessoas acham que eu sou brasileira?
Eu: Não.
Colombiana: Acham sim.
Eu: Tem certeza que seu cérebro consegue reter informações?
Colombiana: Você é muito chato.

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Ela falava como o Brasil era um país ruim:

Eu: Então por que você quer mudar pra cá?
Colombiana: Porque mesmo sendo ruim ainda é melhor que a Colômbia.
Eu: Criticar é fácil, não vejo você fazendo muito pra melhorar.
Colombiana: Eu faço sim.
Eu: Tô vendo, até foge para um país melhor... E outra, se for mudar pra cá vai ter que amar mais o Brasil que a Colômbia.
Colombiana: Os dois países cabem no meu coração.
Eu: Ah é?
Colombiana: Sim, só você não cabe no meu coração.
Eu: Tá vendo, ser gordo tem suas vantagens...
Colombiana: Chato.

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Colombiana: Marcelo, como vocês chamam aquilo?
Eu: Aquele negócio voando?
Colombiana: É.
Eu: Disco voador.
Colombiana: Mentira.
Eu: Tá esperta, na verdade a gente chama de "vagão de trem com asas".
Colombiana: Não é.
Eu: Como chama então?
Colombiana: Avión.
Eu: Pfff. Até parece...
Colombiana: Eu sei quando você está mentindo.
Eu: Ninja!
Colombiana: Quando você falar a verdade eu não vou acreditar...
Eu: Pior pra você, saber quando estou mentindo implica que você quando estou dizendo a verdade, se não acredita é problema seu.
Colombiana: Como você é chato!

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