Mamãe foi pra São Paulo participar de um congresso sobre assistência social. Toda empolgada ela liga pra mim:
Mamãe: Ché, ai meu lindo, meu amor, você não sabe quanta saudade eu estou sentindo.
(Mamãe faz isso, ficar falando "meu lindo, meu amor", desde que eu tinha 6 anos de idade, bom, pelo menos é a idade que eu comecei a perceber que ela fazia isso)
Eu: Oi mãe, também estou com saudade, como estão as coisas?
Mamãe: Tudo bem.
Eu: A vó ainda tá pirando o cabeção?
Mamãe: Está e o vô tá também.
Eu: Então está tudo igual. Como foi em São Paulo?
Mamãe: Chato, mas tem uma coisa que eu gostei.
Eu: Que coisa?
Mamãe: Tinha um grupo com uma camiseta que na frente estava escrito assim "Oh mundo tão desigual, tudo é tão desigual" e atrás "De um lado esse carnaval, de outro a fome total". Bem criativo né?
Eu: É, acho que foi o Gilberto Gil que escreveu a música que tem essas frases. Tem num CD bem antigo dos Paralamas do Sucesso também.
Mamãe (desanimada): Ah, é música?
Eu: É sim, você não sabia?
Mamãe: Eu não! E eu que achava ainda tinham pessoas criativas fazendo serviço social.
(Head Shot)
Eu: Não fica triste, se quiser eu falo que é mentira, que a música nem existe.
Mamãe: Essa foi a única coisa interessante que eu vi no congresso e agora descubro que é plágio. devia ter ficado em Tupi assistindo novela.
Eu: Viu, se você ouvisse um pouquinho mais de música...
Mamãe: Claro, vou comprar uma vitrola, uns discos do John Lennon e virar hippie.
Eu: E vai morar num trailer com seu negão.
Mamãe: É, daqui uns anos eu me aposento, posso fazer isso.
Eu: Claro que não, tá maluca? Não sei porque eu falo essas coisas...
Mamãe: Você acha que eu vou sustentar vocês até quando? O Maurício Mega Fone terminando a faculdade ele vai arrumar um emprego e acabou a festa.
Eu: Vamos voltar ao começo, quando você falou que estava com saudade, que eu era lindo e tudo mais, não gosto desse tom de ameaça na sua voz.
Mamãe é um doce, depois vocês perguntam em quem eu me espelho.
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Hoje eu fui na CI buscar o certificado de que eu participei do programa "work and travel" e:
Eu: Oi, tudo bem?
Atendente: Tudo!
Eu: Eu vim buscar o certificado de que eu participei do programa work and travel...
Atendente: Que ano você foi?
Eu: 2007.
Atendente: Nossa! Deixa eu ver se está aqui.
Eu: Tá.
Ela vai até uma mesa e abre uma pasta com os certificados.
Atendente: Você não pretende viajar de novo?
Eu: Pretendo, mas não agora.
Atendente: Não dá pra viver viajando, né?
Até que daria, não dá pra viver sem respirar, sem água, etc.
Eu: Pois é.
Atendente: Qual seu nome?
Eu: Marcelo.
Ela estava de costas procurando nos certificados se o meu estava lá, quando ouviu meu nome ela parou, olhou pra mim e falou:
Atendente: Você é o Marcelo que foi pro Hawaii?
Eu: Sim.
Atendente: Que legal, me conta, como é lá?
Começa a conversar como se fosse uma velha amiga, detalhe, eu nunca tinha visto a menina na minha frente, depois que eu voltei dos EUA eu não apareci mais na CI, como ela sabia que eu tinha ido pro Hawaii? Sabe lá Deus. Isso depois de 2 anos, as pessoas que trabalhavam na época que eu fui não estavam trabalhando mais lá.
A moça que estava na outra mesa ouvindo nossa conversa vira e pergunta:
Atendente da outra mesa: Mas você foi sem ter nada lá? Só com a cara e a coragem?
Claro, sou quase um herói, o que não me falta é coragem. Veja lá se dinheiro seria empecilho para eu chegar no Hawaii, qualquer coisa eu iria andando de Ohio até a Califórnia e depois nadaria até o Hawaii.
Eu: Mais ou menos, tinha uns amigos de Ohio que tinham ido antes, foi só procurar um emprego novo lá.
Como essas pessoas me conhecem? Devo ser conhecido na CI como "Marcelo, o cara que foi pro Hawaii"
Sou famoso!
Conversei com as moças um tempo, me falaram que meu certificado não estava lá mas que iam pedir para mandarem de São Paulo.
Pergunta: Porque eles não tem um certificado pronto, daquele que é só colocar o nome e responsável assinar?
Vou ter que voltar outro dia.
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Alguém tem o livro "Rei Lear" pra emprestar?
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