O que está em jogo em última instância é o condicionamento desta dinâmica empresarial e tecnológica a uma nova racionalidade distinta (superior) daquela, estritamente econômica, expressa livremente nas relações de concorrência e de mercado.
As sociedades modernas nasceram precisamente da abolição de restrições (religiosas, culturais, estéticas, sociais) às quais a racionalidade econômica estava subordinada anteriormente. Com o tempo, as sociedades capitalistas foram obrigadas, pela pressão de necessidades objetivas, mas também pela pressão social (a ameaça comunista), a impor limites novos ao jogo bruto da racionalidade econômica estrita (abolição do trabalho infantil, limitação da jornada de trabalho, repouso dominical, salário mínimo, seguro saúde, etc.).
Pode-se dizer que a solução para o problema ambiental representa um desafio ainda maior em termos do condicionamento da racionalidade econômica a uma racionalidade que envolve outros valores do que aquele da acumulação de riqueza material: demanda por espaços crescentes para atividades culturais relacionais, sociais e criativas, atividades estas que Adam Smith chamaria de improdutivas (que não produzem nada que possa em seguida comprar uma.
A partir do século XIX tem início esse processo de mudança institucional permitindo a reintrodução de restrições à exploração humana. Esse processo de mudança foi dialeticamente impulsionado pela (re) ação dos agentes econômicos dentro das organizações de produção e por um movimento cultural/ideológico mais amplo que conferiu legitimidade e maior poder de barganha a essa ação.
É preciso uma mudança de pensamento quanto aos nossos valores, maior importância dos valores, considerados como femininos, como a sensibilidade e a imaginação, o amor, a conviviabilidade, o sonho, a reflexão...
Trata-se da passagem de uma civilização do “ter” para uma civilização do “ser”.
No entanto, para que uma nova trajetória tecnológica ecologicamente sustentável substitua a atual, é preciso que essa evolução da consciência ambiental se aprofunde ainda mais pois, como já foi mencionado, o que está em jogo é uma mudança de estilo de vida de caráter civilizatório. Esse aprofundamento, por sua vez, é impulsionado, por um lado, pela melhor compreensão da magnitude e dos riscos dos impactos ambientais globais proporcionada pelo avanço dos conhecimentos científicos, apesar da controvertidos; por outro lado, por um conjunto de fatores, não estritamente ecológicos, que têm contribuído para abalar a firme convicção, prevalecente até os anos 60, de que o crescimento econômico era condição necessária e suficiente para o bem estar.
O aumento do questionamento da doutrina neoclássica de que (apesar da “lei” da utilidade marginal decrescente) mais bens e serviços continua implicando em mais satisfação. Esse questionamento, que começou nos Estados Unidos, quando repetidos surveys (Gallup e National Opinion Research Center) mostraram que o crescimento da renda não foi acompanhado de um aumento da felicidade das pessoas tal como elas percebiam isto. Os resultados destas pesquisas foram analisados por Richard Easterlin, que descobriu a seguinte situação: uma correlação positiva entre nível de renda e grau de felicidade declarada à medida em que se sobe na escala de renda (ou seja, uma maior proporção de pessoas se declaram felizes nos extratos superiores de renda), entretanto, em séries temporais essa correlação não existe: a proporção de pessoas se declarando felizes permanece constante.
As novas regras do jogo significam uma (re) imposição de restrições bastante severas à racionalidade econômica prevalecente, restrições estas fundadas em valores éticos como a solidariedade para com as gerações futuras. Não se trata, entretanto, de uma mudança institucional utópica. Essas condições resultam em última instância de um processo de mudança cultural, representado pela contestação crescente dos canons da civilização industrial. A questão ambiental recolocou sob novas luzes o velho debate sobre a exclusão social: a evidencia da impossibilidade ecológica de generalização dos padrões de consumo das sociedades afluentes, reforça naturalmente o questionamento das disparidades internacionais dos níveis de bem estar material cuja solução, por conseguinte, passa por uma mudança nesses padrões de consumo. Ao mesmo tempo vem contribuindo para reforçar ainda mais o questionamento dos valores que dentro das sociedades de consumo condicionam a percepção de bem estar social.
O que nos leva à aceitar a necessidade de outras formas de conhecimento (o senso comum dos povos não ocidentalizados adaptado ao contexto onde evoluirão), bem como à aceitação do fato de que certos conhecimentos só são possíveis através de processos comunitários ou sociais que sintetizam conhecimentos separados em alguma coisa maior que as partes para assim chegar em uma conclusão sobre o melhor para a humanidade.
Obs: O texto é um resumo de um artigo sobre desenvolvimento sustentável que eu li.
Nenhum comentário:
Postar um comentário