Coisa de mãe

Depois de bater, pela segunda vez seguida, meu recorde de espirros num só dia, cheguei a conclusão de que estou com gripe.
Fui dormir ontem com aqueles sintomas normais, nariz entupido e febre. Amanhã a dor de garganta deve dar boas vindas.

Ao me deitar eu murmuro:

Eu: Mãe, pega lá o termômetro.
Mãe: Você quer que eu tire a sua temperatura agora?
Eu: Não, tirar, não, quero que você meça, só.

Sou insuportável, eu sei.

Acordei e, pra minha surpresa, tinha uma cebola dentro de um prato ao lado da minha cama.
Fiquei olhando estupefato e, depois, gentilmente perguntei:

- Que merda é essa?

Mamãe disse que o vírus da gripe passaria pra cebola e eu ficaria bom. Contou uma história sobre sei lá em que país o vírus da gripe atacou e matou não sei quantas pessoas, mas num lugar próximo de onde essas pessoas morreram o vírus atacou e ninguém morreu pois havia a tal allium cepa.

Acordei com gripe, acho que preciso de mais uma noite com a cebola sagrada.

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Antes do almoço, com minha mãe, comecei a discutir a crença sobre o que a cebola e sobre os outros métodos que eu usaria para combater minha gripe, Vovó Reclamar é Meu Dom começa a falar:

- É verdade sim, a cebola cura a gripe.

Balancei a cabeça em tom de aceitação. Eu já havia desistido de discutir, dois contra um é covardia.
Vovó Reclamar é Meu Dom, vendo que eu não tinha acreditado e desistido antes do tempo, com um ar de total certeza afirma que tartaruga cura bronquite.
Tentei conter o riso, tentei em vão. Depois de um tempo rindo eu perguntei:

- Como é? E a gente tem que comer com o casco e tudo?

Vovó Reclamar é Meu Dom, ponderou por uns segundos e falou:

- Não, não precisa comer a tartaruga. Maurício, se eu não tivesse visto, eu não acreditaria. A Fulana e o filho dela (parentes que não recordo os nomes) tinham bronquite. Sua mãe (sabendo dos poderes da tartaruga contra bronquite) deu uma (belíssima) tartaruga pra eles. Pois toda noite ela coloca a tartaruga dentro de uma caixa de sapato embaixo da cama dela e do filho, durante o dia trocava a areia da caixa e deixava a tartaruga no quintal. Passaram duas semanas e um dia quando ela acordou e foi levar a tartaruga pra fora percebeu que a tartaruga estava estufada e morta. Ela tinha sugado as bronquites, morrido e os dois estavam curados.

Quantos anos minha vó acha que eu tenho, oito?

Inquiri a minha avó:

Eu: Uma tartaruga só salvou os dois?
Vovó Reclamar é Meu Dom: Foi sim, não disse que ela coloca embaixo da cama dos dois?
Eu: Isso que é eficiência!
Vovó Reclamar é Meu Dom: Não precisa acreditar, mas é verdade.
Eu: Mas eu acredito. Só acho que a gente tinha que fazer uma campanha pra juntar todos as pessoas que tem bronquite, colocar numa casa com uma cama enorme, pôr uma tartaruga embaixo da cama e pronto, assim só morre uma, senão o que será das tartarugas?
Vovó Reclamar é Meu Dom: É, mais fácil.
Eu: Lá no Hawaii, tinham umas tartarugas tão grandes que curavam até AIDS.
Vovó Reclamar é Meu Dom: Mentira, tartaruga só cura bronquite.
Eu: A sua só cura bronquite, a minha é mais cacetuda!
Vovó Reclamar é Meu Dom: E outra, a tartaruga tem que ser daquelas pequenininhas e ganhada.
Eu: Ah, agora começaram as frescuras...
Vovó Reclamar é Meu Dom: Não é frescura, são só essas duas.
Eu: Como assim, seu eu sou uma pessoa sozinha e tenho bronquite, tenho que ir na loja e pedir pra alguém me dar uma tartaruga senão eu vou morrer?
Vovó Reclamar é Meu Dom: Vou fazer almoço que eu ganho mais.

Pior que isso, só a tecla insert.